O Valor do Sofrimento
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"Onde não há amor, coloque amor e receberá Amor"
O livro "Obras Completas", Ed. Vozes, escrito pelo místico São João da Cruz, aborda, na página 535, o valor do sofrimento na vida dos fiéis, permitido por Deus, objetivando sua purificação.
Não estamos acostumados a sofrer e, quando isso acontece, não temos respostas adequadas que nos ajudem a administrar essa fase tão desconfortante.
A Teologia Mística, ou "ascética" (os dois nomes têm o mesmo significado) ensinam que Deus, por nos amar e para deixar claro esse amor, aproveita-se de todas as situações pelas quais passamos para nos aproximar de Suas graças.
Embora haja uma porção deles, um momento muito privilegiado é quando estamos sofrendo. Quantas vezes o sofrimento é permitido e administrado por Deus, objetivando colocar-nos mais perto de Seu amor, permitindo que, de maneira pedagógica, tomemos consciência do que pode o seu amor por nós.
Ninguém pense, por isso mesmo, que alguém sofre à toa. O sofrimento seja ele qual for é a oportunidade para crescermos emocional e espiritualmente e, em última análise, para nos aproximarmos mais de Deus, fonte de graças e de salvação.
Mas, para que tais experiências possam dar certo é necessário que deixemos de lado nossa sapiência, nosso orgulho, nossas paixões desenfreadas e, com humildade, aceitemos o sofrimento como algo permitido por Deus porque, do contrário, nosso homem velho pode atrapalhar os propósitos de Deus.
Esses e outros aspectos são tratados de maneira esclarecedora por São João da Cruz nas páginas do livro acima mencionado.
Aproveita, e muito! Na obscuridade da "noite escura" (São João chama o período de sofrimento de noite escura) só vamos encontrar lucro.
É por isso que nesses momentos não podemos desanimar, mas, pelo contrário, rezar e agradecer por estarmos passando por esta fase, difícil sim, mas necessária!
É uma parte de nossa vida muito difícil, ninguém nega, mas muito importante. E se Deus não estivesse "gerenciando" essa etapa de nosso crescimento, não agüentaríamos de fato.
Nessa fase nossas potencias, isto é, nossa parte sensível, nossa parte espiritual e a nossa parte inferior participam intensamente, na visão de João da Cruz: "Na escuridão dessa noite, mudamos de traje, disfarçando-nos com a veste das 3 cores - e pela escola da fé viva - saímos encobertos, para melhor realizarmos essa façanha. Essa purificação é necessária para que a alma perca o modo baixo e humano - natural com que se recebe as coisas do alto, porque a nossa alma não está ainda bem".
HÁ QUE MORRER O HOMEM VELHO!
Por isso mesmo Deus não pode dar coisa melhor antes de nos purificar, porque não estamos preparados para receber. Receberíamos sempre da maneira do homem velho, de forma egoísta, e de modo baixo.
Cabe aqui, então, uma pergunta: Se as coisas divinas fazem bem à nossa alma e nos ajudam relativamente à salvação, porque Deus permite que a alma passe antes pelas privações?
Justamente pelo que acabamos de dizer: porque não estamos ainda preparados para coisas melhores. Para que a graça de Deus possa atuar em nós é preciso que estejamos preparados, que permitamos. Falta-nos, não raro, amor, muita luz, muita compreensão.
Ele quer dar, mas nós é que às vezes não estamos preparados. Daí a necessidade Dele nos ajudar, permitindo e provocando as situações que vão nos ajudar amadurecer na fé.
Por isso temos que passar pelas privações, para perdermos aquilo que nos atrapalha, e conseguirmos a purificação pelo sofrimento que, em síntese, é aquilo que cura, que dilata, que ajuda na santificação. Esse é um caminho seguro.
Nessa fase da "noite escura" Deus prepara nossa alma, permitindo que ela fique privada de gostos e de ações, esses "gostos" e essas "ações" que só vão atrapalhar a comunicação que Deus fizer com nossa alma.
É por isso que no sofrimento Deus propicia à nossa alma "ficar quietinha", para não atrapalhar Seu trabalho em nós.
É por isso que algumas vezes nos sentimos pessoas frias, apáticas, sem gosto pelas coisas de Deus, ou pela oração... Quanto Deus investe em nós, para nos dar Dele mesmo, muitas vezes nos portamos como pessoas ingratas, porque desconhecemos esses mecanismos de amor.
Vem à minha mente que toda alma que deseja, de fato, estar unida a Deus, deve se esforçar para estar disponível na vontade, na memória e com a inteligência, moderando os apetites, fazendo jejum, tentando ajudar...
De outras vezes, quem sabe, nem isso devem fazer, mas simplesmente esperar e esperar, confiando que Deus está agindo de maneira muito sutil, quase que imperceptível.
Todo dom espiritual é Deus quem dá, de maneira que quer, do jeito que deseja, no tempo que julga necessário e, principalmente, porque que Ele quer dar. Não podemos nos esquecer, todavia, que devemos fazer a nossa parte, abrindo-nos à ação do Espírito Santo e nos colocando com humildade sob a proteção do Senhor Deus. Devemos nos abandonar nas mãos do Senhor, para que o Seu Espírito Santo nos conduza da maneira que julgar mais conveniente, conscientes de estarmos fazendo nossa parte.
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